Já olhou uma borboleta de perto? Já prestou atenção no seu processo de transformação, ou, para melhor dizer, de metamorfose? Instigada a criar uma obra que pudesse propor caminhos para inventar novas formas de contar a história da Vila Itororó, e tornar o seu passado algo mais presente, a artista Carla Zaccagnini resolveu aproximar as mudanças radicais das borboletas com as que a cidade de São Paulo sofreu no século XX – de vilarejo a metrópole – e continua sofrendo. As presenças de larvas, casulos e borboletas tornam palpáveis, em outra escala de tempo e de espaço, as violentas transformações que caracterizam também a Vila: entre utopia e fracasso, sonho e frustração, construções e destruições, rios enterrados e moradores desalojados; os ciclos naturais das borboletas e as narrativas humanas da Vila se entrelaçam em uma experiência vertiginosa do tempo. O “efeito borboleta”, da teoria do Caos, ficou popularmente conhecido com a ideia que o bater de asas de uma borboleta em algum lugar do mundo pode gerar uma tempestade em outro. O que seria então do bater de asas de uma panapanã, esses coletivos que as borboletas formam quando migram? Por singelo que pareça, criar borboletas num canteiro marcado por tantas histórias, pode ser uma forma inesperada de reafirmar a nossa possibilidade de abraçar – e talvez mudar, sem por isso controlar – o rumo de uma história que parece, assim como o resto da cidade, determinada por interesses muitas vezes destrutivos. Plantas atraem borboletas que atraem pessoas que podem, juntas, como que em grandes panapanás, influenciar o futuro deste território em disputa. Carla Zaccagnini adentrou as muitas narrativas da Vila com uma obra realizada também em muitas camadas.
“Panapanã” vem de panãma, “borboleta” em tupi. Dessa forma resultou a palavra “panamá” (que Houaiss também registra como sinônimo tanto de borboleta quanto de panapanã). Da perda da última sílaba e da duplicação do termo (“panã-panã“), resultou a forma “panapanã”, que gerou também a variante panapaná”.